Olha-se mas não se vê. Um simples cateter urinário e um erro cognitivo.
Este post é dedicado a Daniel Kahneman, que faleceu recentemente (27 de janeiro de 2024). Foi um psicólogo e economista conhecido pelo seu trabalho sobre o hedonismo, a psicologia do julgamento e a tomada de decisões. É também conhecido pelo seu trabalho sobre economia comportamental, pelo qual recebeu o Prémio Nobel da Economia em 2002 (wikipedia).
Um erro cognitivo: como é que um dispositivo simples e útil pode desviar o seu raciocínio?
O dispositivo que pode ver na imagem abaixo chama-se “coletor de urina” e é ligado ao pénis quando é importante medir a produção de urina, mas não se quer colocar um cateter na bexiga. O coletor está ligado a um saco para medir a quantidade de urina.
Relato de caso
Um médico visitou um doente com o diagnóstico de cancro do pulmão disseminado, que estava a receber uma combinação de analgésicos, morfina e sedativos, para controlar as dores nas costas e a falta de ar. O paciente estava sedado, sem possibilidade de comunicação verbal. Estava calmo e relaxado, acompanhado pela família.
Durante o exame físico básico normal, o médico sentiu uma “massa” no hipogástrio, e pensou que o doente tinha retenção urinária, mas mudou de ideias quando viu o que lhe pareceu ser um cateter urinário com urina a escorrer por ele.
Evolução final
Depois de uma hora a pensar na situação, com a sensação de que não tinha uma explicação completa para o que tinha visto, chegou à resposta. Pode sugerir a resposta correcta a partir da seguinte lista de possibilidades?
1 O médico tocou numa próstata grande.
2 A estrutura abdominal era o estômago
3 O médico detectou uma bexiga cheia de urina
4 Não é assim tão importante esclarecer a situação clínica
Resolução e explicação
O médico ficou muito surpreendido quando detectou um nódulo, do tamanho da cabeça de uma criança de dois anos, localizado no hipogástrio, e que, à palpação, parecia uma estrutura não sólida, mas sob tensão. A resposta veio quando o médico viu a situação real. A urina não estava a ser colhida com um cateter uretral, mas sim com um “coletor urinário”, num doente que não estava alerta e incapaz de controlar a sua própria bexiga.
Conclusão
Quando o doente não está alerta, este tipo de dispositivo nunca deve ser utilizado, uma vez que a urina pode fluir de forma incompleta e o doente pode sofrer de “bexiga de retenção”.
Autor: Dr. Lorenzo Alonso Carrión
FORO OSLER