Necrose da medula óssea. Um nome para o problema de um doente

Mariza era uma jovem que adorava música clássica. Trabalhava como designer de jogos de computador, praticava desporto e ajudava crianças imigrantes. Sem saber como, quase de um dia para o outro, começou a sentir-se muito cansada, sem forças e, por vezes, com uma sensação de tonturas. Começaram também a aparecer nódoas negras nos braços e nas pernas quando dava um pequeno encontrão. De repente, os seus pensamentos levaram-na a pensar que tinha leucemia.

Devido à sua falta de forças para se mexer, dirigiu-se ao serviço de urgência do hospital. Aí, disse que não tinha tido febre, nem tosse, nem diarreia, nem dificuldades respiratórias. Como dado significativo, referiu que os seus ossos doíam de um modo geral. No tinha efectuado viagens longas.
Quando o médico a examinou, ela apenas lhe disse que se sentia pálida e falou das nódoas negras na pele, mas não encontrou gânglios linfáticos nem qualquer outra informação que permitisse distinguir as duas situações.
Foi efectuada uma primeira análise ao sangue, mas ela continuava preocupada com a possibilidade de leucemia.

Esfregaço de sangue periférico: anisopoiquilocitose das séries vermelhas com policromasia e presença de alguns eritroblastos. Esquistócitos frequentes (5,4%). Trombopénia. Não foram observados blastos ou promielócitos atípicos.

Raciocinio Clínico

Os resultados são compatíveis com um processo de destruição dos glóbulos vermelhos, devido a causas mecânicas ou a microtrombos na circulação, o que, juntamente com a diminuição da haptoglobina, sugere uma anemia hemolítica.

Evolução clínica

O doente foi admitido no Serviço de Hematologia, onde foi razoavelmente excluído um processo hematológico neoplásico agudo através de um esfregaço de sangue periférico, tendo sido proposto o diagnóstico alternativo de Púrpura Trombocitopénica Trombótica como “worst case scenario”.

Para diagnosticar ou eliminar este diagnóstico, foi solicitado um exame laboratorial fundamental.
Pode sugerir qual é esse exame? Pode ler a resposta AQUI num artigo científico

Foi também realizada uma biopsia da medula óssea para observar as características arquitectónicas da medula óssea e excluir definitivamente um processo neoplásico hematológico agudo.

Resultado da biopsia da medula óssea:

Medula óssea com baixa celularidade das três séries, com microtrombos e sinais de necrose. Necrose da medula óssea. Observam-se células atípicas altamente suspeitas de serem células neoplásicas de linhagem epitelial.

Resumo clínico

Doente do sexo feminino, jovem, sem antecedentes, iniciou quadro subagudo de astenia, hiporexia, emagrecimento, dores ósseas, predominantemente na coluna vertebral, acompanhadas de hemorragias cutâneas após traumatismo mínimo. As análises sanguíneas revelaram uma anemia hemolítica, com diminuição da haptoglobina, e a presença de esquistócitos no sangue periférico, com trombopénia e reação leucoeritroblástica. O exame da medula óssea revelou necrose da medula óssea e infiltração de células epiteliais neoplásicas. Não havia outros sintomas que sugerissem a origem das células neoplásicas, mesmo após TC de corpo inteiro.

Diagnóstico final

No início, não parecia fácil chegar a um diagnóstico final. No entanto, com persistência e seguindo os passos adequados, o possível local de origem das células neoplásicas foi obtido e confirmado por biopsia.
Que exame final acha que permitiu obter uma amostra e de que órgão? No nosso caso, o UpToDate ajudou-nos. Mais informações AQUI

ADDENDUM: Cintigrafia óssea do paciente

Autor

Lorenzo Alonso Carrión

FORO  OSLER

Diagnostico: cancer gastrico

Share